Crime e castigo?

quarta-feira, 26 de março de 2008


Aluna do Carolina
no Tribunal de Menores
Ministério Público instaura processo contra jovem envolvida em incidente com professora. Averiguação visa apurar se houve ofensas à integridade física da docente ou crime de injúrias.

Não querem, já agora, arrastar a miúda pelas ruas, com uma letra escarlate ao pescoço, e depois, quem sabe, talvez apedrejá-la ou incinerá-la? A hipocrisia nacional é um "case study". Um triste e repugnante incidente filmado por um telemóvel vai parar ao youtube e um país inteiro aponta o dedo a uma adolescente estúpida, demonizando-a para além do admissível. Os políticos indignam-se e dizem e fazem coisas que nos fazem corar de vergonha. Os perniciosos dirigentes das associações de pais, sempre famintos de uma migalha de protagonismo, invocam a moral e os bons costumes, esquecendo-se que a educação começa em casa. Os sindicatos usam o caso como uma arma de arremesso contra a ministra e a ministra manda o inenarrável Valter Lemos dizer umas insanidades. Um circo.
A miúda já disse que está arrependida e pediu desculpa, mas pode contar ser arastada pela lama mais umas semanas. Já que o sistema criou condições para que se comportasse como uma sevandija mas não criou mecanismos para uma punição rápida, eficaz e dissuassora, então que asse lentamente no espeto da opinião pública, num fogo alimentado por editoriais moralistas de directores de jornais que equilibram as contas da empresa com o trabalho de estagiários pouco mais velhos que a aluna do Carolina, dispensados ao fim de seis meses sem qualquer remuneração e logo substituídos por nova fornada de jovens ansiosos.
A miúda agiu estupidamente. O seu comportamento não pode ficar impune. Estou solidário com a professora, que revelou grande dignidade ao longo de todo este episódio. Mas custa-me ver como a santa hipocrisia nacional encontrou mais uma vítima a quem atribuir as suas falhas e frustrações. E que tudo isto aconteça na escola que acolheu o professor Charrua, alvo ele também de uma extraordinária humilhação pública por um delito de opinião, torna tudo mais irónico. E triste.

2 comentários:

Anônimo disse...

Do que tenho lido e ouvido sou levada a pensar que existe uma (aparente) desproporcionalidade entre o que se passou e as reacções, quer da escola, quer agora do poder judicial. Recorreu-se, pelos vistos, à sanção máxima prevista no estatuto do aluno.
Não sendo desejável que aconteçam factos como o ocorrido, pergunto-me qual seria a sanção para outros decerto muito mais graves.
E impressiona-me também o comportamento dos restantes alunos daquela sala, que merece a minha veemente censura. Mas desses ninguém fala. E esta aluna acaba por ser usada para dar o "exemplo" a outros que tentem fazer o mesmo.

Anônimo disse...

Meu caro Rui, a professora "revelou grande dignidade ao longo de todo este episódio"????
Como diz? Então a sra. nem sequer participara a insolência e tu dizes que se portou com "dignidade"!?
Quer dizer, não fora o you tube e estava agora a alarvezinha sentada (ou provavelmente de pé) à frente "da velha" como se nada tivesse acontecido...
Nem tanto ao mar nem tanto à terra, meu caro.
Parabéns pelo regresso em grande à blogosfera. Era tempo!